terça-feira, 20 de julho de 2010

Resumo: Meditações Metafísicas - Renè Descartes

Não estou ainda muito certo sobre postar no Blog textos referentes à faculdade de psicologia. Mas alguns são especialmente importantes e, pelo menos nesses casos, vou me desculpar por postá-los aqui.
Nesse caso, um pequeno resumo da primeira e segunda meditações metafísicas de René Descartes.





Meditação Primeira

Percebi que não poderia mais ter absoluta certeza de fatos outrora tomados como verdadeiros. Era então necessário revê-los todos a fim de estabelecer algo acima de dúvida nas ciências. Mas, sabendo da dificuldade que a tarefa representava, esperei até atingir uma idade na qual não pudesse mais adiá-la.
Portanto, agora me aplicarei a destruir todas minhas antigas opiniões. Para isso não preciso analisá-las uma a uma, preciso apenas derrubar o que todas têm em comum e o que de todas é o alicerce principal.
Tudo o que aprendi foi através dos sentidos; então, já que estes já se mostraram indignos de confiança uma vez, não posso deixar-me enganar por eles.
Contudo, mesmo sabendo que os sentidos nos enganam às vezes, há certas situações em que não se pode razoavelmente duvidar deles. Como eu poderia negar que estas mãos e corpo sejam meus? Seria loucura negar isso.
Entretanto, devem concordar que em sonho mesmo homens sadios costumam representar certas coisas pouquíssimo verossímeis. E, ainda que em alguns desses sonhos saiba que estou sonhando, às vezes sou enganado por tais ilusões. Pensando bem sobre isso, não consigo distinguir marcas que possam separar claramente a vigília do sonho.
Vamos supor agora que estejamos dormindo e todo nosso corpo e o que sentimos através dele não passa de ilusão. Ainda assim, é preciso confessar que esse corpo e esses sentidos ilusórios devem ter sido espelhados em um corpo real com sentidos reais. Ainda que a realidade seja muito diferente da ilusão que nos é apresentada neste sonho, não podemos deixar de supor que ela deve existir para inspirar o sonho.
Pela mesma razão, ainda que em vigília nossos sentidos talvez nos enganem e alterem as características do mundo, devemos admitir que existe um mundo que é de natureza corpórea e real.
É por essa razão que podemos concluir que a Física, a Medicina e todas as outras ciências dependentes do modo como nossos sentidos nos apresentam o mundo são muito duvidosas e incertas; e que a Aritmética, a Geometria e outras ciências que independem da efetiva existência de seus objetos de estudo contém algo de certo e inquestionável. Afinal, esteja eu dormindo ou acordado, dois mais três são cinco e o quadrado não terá nunca mais do que quatro lados. Tais coisas nos preenchem de um sentimento de certeza.
Penso que há um Deus onipotente que me criou e sendo onipotente poderia perfeitamente enganar-me sobre tudo o que acho que vejo. Assim, até as manifestações mais fortes de certeza que experimento, tal como a soma de dois e três e a quantidade dos lados de um quadrado, não seriam nada mais do que artifícios de Deus para me enganar. Então, se é possível que eu possa ser enganado por Deus, não posso confiar plenamente nem quando estiver inundado do mais puro sentimento de certeza.
Algumas pessoas preferirão pensar que um Deus que seja tão poderoso não poderia deixar de ser completamente bom e desse modo não me enganaria jamais. Prefeririam antes pensar que não fui criado por Deus mas por uma cadeia de acontecimentos desconhecida. Ainda assim, quando menos poderoso for meu criador, mais imperfeito serei eu e maiores as chances de poder me enganar. De uma forma ou de outra, não posso deixar de duvidar de tudo se realmente desejo alcançar algo indubitável e confiável nas ciências.
Agora não posso deixar-me esquecer de que não posso acreditar em minhas antigas opiniões. Não posso deixar-me levar por elas em momento algum e devo, para isso, recordar de que são de alguma maneira duvidosas, ainda que pouco prováveis de serem totalmente falsas. Será mais proveitoso se tomar todas por duvidosas a fim de atingir verdades que sejam inabaláveis.
Já que Deus é fonte de verdade e não poderia então enganar-me, vamos supor um gênio maligno que se empenhou em enganar-me. Considerarei que não tenho sequer um corpo e que o próprio mundo é uma ilusão criada pelo tal gênio para me enganar. Dessa forma posso então suspender todos os juízos que tenho e em nenhum deles acreditando não poderei ser surpreendido por esse enganador.
Contudo, todos esses pensamentos são trabalhosos demais e certa preguiça arrasta-me para a normalidade da vida. Deixo-me levar, pois talvez todo esse trabalho não me levasse efetivamente ao conhecimento da verdade.


Meditação Segunda

A primeira meditação propõe dúvidas de tal natureza que após cogitá-las torna-se impossível ignorá-las. Portanto prosseguirei derrubando as verdades que não sejam completamente confiáveis até ter encontrado algo de certo ou ao menos aprender que não há nada de certo no mundo.
Mantendo a suposição de que não só o meu corpo mas todo o mundo como o percebo são falsos, o que posso então considerar verdadeiro?
Se tudo o que vejo são ilusões, é necessário que algum Deus, ou alguma outra potência, produza tais ilusões? Isso não é, pois eu poderia produzi-las por mim mesmo. Porém, é indispensável concluir que eu existo de alguma forma, pois não poderia ser enganado se não existisse. Logo, toda as vezes em que enunciar a sentença 'eu sou, eu existo', ela tem de ser necessariamente verdadeira no momento em que o faço.
Se é totalmente certo que eu existo, devo agora proceder com cuidado para não enganar-me sobre como existo e tomar alguma outra coisa por mim.
Pensava antes que eu era um homem, mas sopesando todos os atributos de um homem, não encontro nenhum que posso ter a certeza de possuir. Não posso estar certo de caminhar, de me alimentar, nem ao menos de sentir posso estar certo, visto que todas essas atividades requerem um corpo. Contudo, posso estar certo de pensar. Logo é certo que 'eu sou, eu existo' por todo o tempo em que eu penso. Pois não posso estar certo de que, se eu deixasse de pensar, deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir.
Posso estar certo então de que sou uma coisa existente. Mas que coisa? Uma coisa que pensa. Não posso porém utilizar da imaginação para descobrir o que mais sou, uma vez que imaginar é contemplar a figura ou a imagem de uma coisa corporal – que não poderia estar certo de existir. Contudo, posso certamente afirmar que, sendo uma coisa que pensa, sou também algo que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que tem vontade, imaginação também e que sente.
Pois se sou eu quem duvida, quem entende e quem deseja, tais coisas são portanto reais. E certamente também posso imaginar. Afinal, independentemente da existência do que imagino, o fato de imaginar é certo e faz parte do meu pensamento. Da mesma forma, sou capaz de sentir; e ainda que esteja dormindo ou sendo enganado, e então o que eu sinto talvez não exista, sentir nada é senão pensar, e já é certo que penso.
Comecemos pela consideração das coisas mais comuns: aquelas que vemos e tocamos. Tomemos como exemplo este pedaço de cera que contém todas as características que podem fazer conhecer um corpo.
Se aproximarmos a cera do fogo, todas suas características são alteradas. Ela não deixa, contudo, de ser cera. Logo, o que faz dela cera não são as características que pude perceber através dos meus sentidos. Afastando então tudo o que não pertence à cera, permanece somente algo extenso, flexível e mutável. Sendo eu incapaz de percorrer toda a infinidade de modificações que a cera pode sofrer, a concepção que tenho de cera não depende da minha capacidade de imaginar. O pedaço de cera então só pode ser concebido pelo meu entendimento. Assim como tudo o que vejo me é apresentado difusamente através da visão e só é bem interpretado pelo poder de julgar que possuo.
Tudo isso esclarece ainda mais o fato de que existo. Afinal, se penso ver a cera pode ser mesmo que eu não tenha olhos, ou que ela não seja como penso ser, porém não pode nunca ser que eu não exista para que pense vê-la.
Chego então ao ponto em que desejava. Após ter concluído que só concebemos os corpos pela nossa capacidade de entender, ou seja, por colocá-los em nosso pensamento, não há nada mais fácil de conhecer em nós do que o espírito.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Casa da Luxúria



Altos papos durante a santa ceia no RU da UFJF e eis que uma amiga conta pra mim e mais um amigo sobre uma certa festa inspirada num certo livro. Quase sem querer ela acaba falando o nome do livro, mas fala tão rápido que não consigo entender nada mais do que 'casa … budas'. Envergonhada por expor o tal livro pernicioso, ela se recusa até a morte a repetir o nome do bendito.
Pra essas e outras situações na vida é que existe o Google!

Senhoras e senhores,
Bem-vindos à Casa dos Budas Ditosos

Eles sempre foram felicíssimos. Ela adorou a áfrica do Sul, até porque sempre gostou muito de matar bichos grandes, e Carl dava todo o dinheiro que ela queria para ela comprar o direito de sair matando o que lhe desse na veneta, naqueles países africanos que a gente vê nos documentários, onde só tem bichos, pobres fantasiados e generais com contas secretas na Suíça, são só não sei quantos mil dólares por elefante, não sei quantos por leão e assim por diante, para não falar que não havia ecologistas. Ela disse que matar é o maior afrodisíaco que existe e que sente um arrepio assombroso, na hora em que o bicho sucumbe. Quando ela era menina, ordenava às serviçais da fazenda que a chamassem quando fosse hora de matar qualquer bicho, inclusive porco, que é uma barra para morrer de faca, com aqueles guinchos agoniados, aquelas contorções e sangue espirrando por tudo quanto é lado. E ela preferia faca a qualquer outro instrumento, para essa diversão. O contato é mais próximo, dizia ela, e eu acredito que ela tinha um barato fazendo essas coisas. Naturalmente que não dava para matar um leão dessa forma, feito Tarzan, mas ela sempre atirou bem e matou uma porção. Ainda aqui na Bahia, ela chegou a criar uma jibóia chamada Selma, e a coisa de que ela mais gostava era alimentar Selma. Jibóia não come comida morta, tem que ser um animal vivo. Pelo menos foi isso que ela me contou. Cobra come pouco, acho que uma ou duas refeições por mês. Bem, não vem ao caso, o fato é que ela descolava uns ratos brancos com uma amiga em não sei que laboratório, ou então uma preá no criatório de um empregado do pai, e fazia um verdadeiro ritual para dar o bicho a Selma. Assisti a algumas dessas celebrações. Não entrei em transe nenhum, mas acredito que compreendi o barato dela, acho que intuo esse barato, havia alguma coisa de morbidamente sensual naquela cena. Ela trazia o rato numa gaiolinha de arame, não tinha nem a caridade de arranjar uma caixa fechada; me lembrava aquela cena de Ana Bolena em que vêm dizer a ela, Ana Bolena, que Henricão mandou cortar o pescoço dela, com aqueles tambores agoureiros redobrando e Maria Callas gritando "sirrrr Peeerrrrrrcy!", acho lindo. Norma Lúcia botava Selma num quarto desocupado e sem mobília daquele casarão enorme da chácara, trancava a porta, acendia uns incensos fedidos que ela comprava nas Sete Portas, se acocorava num canto e soltava o rato para Selma comer. Despejava o rato, quero dizer, porque ele não saía da gaiola, gelava assim que via a cobra. Ela entrava em êxtase só de ver o rato paralisado de terror, e Selma fixava aquele olhar malevolente de cobra nele, com a língua tenteando o ar, para depois, com uma classe sinuosa que só cobra tem, enroscar-se nele, lambê-lo, esmagá-lo e engoli-lo sem pressa. Norma Lúcia não se aguentava de excitação diante desse espetáculo e se masturbava horas seguidas. Muitíssimo mais tarada do que eu, incomparavelmente, chegava a acariciar longamente os paus dos cavalos dela, com os olhos fechados e quase em transe. E adorava ver cavalos trepando também.”



Foram meses, alguém acredita? Foram meses para ele compreender que eu estava querendo dar para ele e mais meses para ele aceitar me desvirginar. Foram meses renascentistas, florentinos, mas eu não me importei, até gostei. Continuei levando a minha vida como sempre, com noivo e tudo. Me sentia mais ou menos como Selma, a jibóia de Norma Lúcia, e ele era o ratinho em que eu ia me enroscar e engolir.”


“─ Algo me diz, falava-lhes eu... Ha-ha-ha-ha! Ha-ha-ha-ha! Ai, meu Deus... Desculpe a crise de riso, mas eu me senti, não sei por quê, meio Lacan, declamando todas aquelas baboseiras desconexas e ininteligíveis, e os crentes tentando decifrá-lo como quem decifra Nostradamus ou a pitonisa de Delfos, quando é claro que ele mesmo não sabia que merda estava falando, suspeito que tomava qualquer coisa para o juízo. Descia as ventas numas quatro carreirinhas gordas e ia à luta. O que se fala e escreve de merda engalanada na França é inacreditável, eu mesma nunca engoli nada dessa empulhação que confunde ininteligibilidade e chatice com profundidade, nem Lacan, nem Godard, nem Robbe-Grillet, nada dessas merdas, tudo chute e chato, e quem gosta é porque foi chantageado a gostar e, no fundo, se sente burro. Sartre ainda tinha umas coisas, se bem que L.etre et lê néant é a mãe dele, mas ainda tinha umas coisas, às vezes era arrebatador. Não, não tenho nada que me sentir como Lacan, eu... Ha-ha-ha, desculpe, é dessas crises de riso que a gente não consegue deter. Lacan...




Imagine a cena, um maluco furibundo, com o miolo cheio de cocaína ou anfetamina, despejando aquela enxurrada amazônica de non sequiturs esbugalhados em cima de uma platéia que nunca entendeu e até hoje vive tentando comicamente entender e terminando por falar do mesmo jeito e acabando invariavelmente por infelicitar alguém. Ele não escreveu porque, provavelmente, não conseguia sentar para escrever. Tem gente assim. Eu também, quando ficava ligadona, era assim, não parava quieta, nem na cama. Devia haver um nome para essa doença, ou pelo menos para alguns de seus sintomas. Não a doença dele, que era uma variante neurológica maligna de glossolalia, nada de extraordinário. Eu me refiro à doença dos religiosos dele, os iniciados, os sacerdotes e, naturalmente, os que usam o tal "tempo lógico" ─ como se o Mestre dos Mestres jamais houvesse proferido alguma coisa de lógico ─ mais espertamente, só deixando o sofrente falar dois minutos e mandando-o às favas para ter tempo de atender a mais noviços. Lógico para o bolso; é uma. Não, eu não tenho nada a ver com Lacan; sim, there is method in my madness.”


[...]como é bela a mudança de cara na hora de trepar, é o conhecimento absoluto.”

Vittorio Gassman tinha razão, numa entrevista que eu vi na tevê: a vida devia ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir.”

Eu não vou fazer conferência, prometo que não vou fazer conferência, sei que é um hábito intolerável, mas não posso deixar de fazer um adendo em relação ao incesto. Sou como Bernard Shaw, não basta mostrar, tem que explicar, senão as pessoas não entendem. Claro que as mulheres de Rodolfo estavam cansadas de saber que muita coisa mais do que beijinhos havia entre nós, eu nunca escondi que tinha loucura por ele, embora sem precisar até que ponto e assim por diante, mas sempre me indignou ter que esconder o que para mim é a coisa mais natural do mundo. Tenho absoluta certeza de que o número de irmãos que transa com irmãs, tios e tias com sobrinhos e sobrinhas, pais com filhas e mães com filhos, ad infnitum, é muitíssimo maior do que a nossa hipocrisia admite, e não há razão por que deva ser de outra forma. E primos criados juntos? É universal ─ cousinage, dangereux voisinage. Antes de se poder evitar filhos com segurança, vá lá, havia uma razão genética. Mas não hoje em dia, mesmo antes da pílula, quando se podia fazer um aborto nas melhores clínicas, bastando ao médico usar o nome artístico de curetagem. Incesto era normal no Egito antigo, Juno era irmã e mulher de Júpiter, todo mundo comia todo mundo, é natural, artificial é a noção de incesto como um mal em si, não tem nada de intrinsecamente mau no incesto, antes muito pelo contrário, é uma força da Natureza, é natural! Não é obrigatório, mas é natural. Acho burro ou mentiroso quem se escandaliza com eu ter comido meu irmão e meu tio, para não falar em primos, cunhados e quejandos. Eu me arrependo de não ter comido meu pai, hoje me arrependo, tenho certeza de que, armando um bom esquema, eu conseguiria, ele também era normal, e eu adorava ele e bem que eu podia ter contracorneado minha mãe, ia fazer bem a todos os envolvidos, até a tio Afonso, quem sabe? E nisso eu sinto lá a cara feia do preconceito, fico puta com essas contradições, mas neurose é neurose. Tenho de admitir que sou uma nevropata, talvez no feliz dizer de Euclides da Cunha. Porque também acho esse negócio de cornidão o maior atraso de vida, ninguém é monógamo, nem homem nem mulher, só degenerado mesmo, masoca, deslibidado, doente da cabeça gravemente. Ficar casado com a mesma pessoa a vida toda, ótimo; até tenho admiração sincera por esse tipo de santidade e pode-se mesmo alegar que passei a minha vida toda casada com Rodolfo e presentemente sou viúva dele. Agora, nunca ter querido dar uma escapulidinha de vez em quando, nunca ter fantasiado uma trepada fora é mentira. Mentira que muito raramente pode ser sincera, mas, mesmo nestes casos, não deixa de ser mentira. Todo mundo é corno, mesmo que não seja, por uma mera questão conjuntural técnica. Sei de muita gente a quem esse reconhecimento incomoda tremendamente, traz mudanças de assunto, crises de melancolia, irritabilidade e surtos de suores frios em bibliotecas, livrarias e cinemas. Alguns homens, até liberais, não suportam a idéia de suas mulheres verem fotos pornográficas, não querem que isso exista para elas, coitados. Acham que, por não deixarem que a mulher veja certos atos e observe o pau de outros homens, elas não vão fazer isso por conta própria se resolverem, ou passarão a vida na crença de que só o marido tem pau, o maior do mundo, e ninguém faz safadagem. E mulheres que criam caso porque seus homens vêem fotos de mulheres peladas, também coitadas. Luta mais besta não pode haver, melhor seria que todo mundo fosse foder numa boa e deixasse de aporrinhar o juízo alheio. Mas parece que a humanidade acabará e isso não acontecerá. Não existe ninguém razoavelmente normal que não pense, ou tenha pensado, em prevaricar. Nesse ponto, como em muita coisa mais, eu fui pioneira, numa geração obscuramente pioneira. Quando eu fui morar com Fernando, em 62 ou 63, nunca sei direito, já velha para os padrões da época, ele sabia tudo sobre mim e sabia até que eu tinha prometido a bunda a tio Afonso para quando voltasse de Los Angeles, só que, verdade seja dita, Fernando tinha certeza de que eu ia sacanear meu tio e não ia dar nada. Mas o resto ele sabia. Única combinação: fodeu na rua, contava ao outro. Corolário: o fodedor ou fodedora da rua tinha que saber que a gente contava tudo um ao outro. Mas não contava realmente tudo, esse tipo de combinação nunca funciona cem por cento. E olhe que a gente comia muito as mesmas pessoas, o que facilitava as coisas. Não resolve, até ciúme aparece, é inacreditável. Mas é melhor do que nada, pelo menos a gente não mente nem finge e dissimula tanto, melhor que em muitos conventos.”


Atraso, atraso, vivemos segundo regras e padrões para os quais nenhum ser humano foi feito e, claro, ficamos malucos por isso.”

OBJETIVO DA NARRAÇÃO:
E as pessoas lêem romances, biografias, confissões e memórias porque querem saber se as outras pessoas são como elas. Não somente por isso, mas muito por isso. Querem saber se aquilo de vergonhoso que sentem é também sentido por outros, querem olhar mesmo pelo buraco da fechadura e, quanto mais olham, mais precisam olhar, nunca estarão saciadas. Faz bem, é reconfortante. Porque eu tenho a convicção de que a maior parte das mulheres e homens é como eu e pensa que não, cada um pensa que é único em suas maluquices. Não é, não, somos todos iguais. Vai ter muita gente que vai ler isso e vai discordar e de novo estou com preguiça de argumentar. Largue este texto, então, não perca seu tempo. Não largou? Não largou, claro, chegou até aqui. Não é para largar. A intenção do buraco da fechadura é a primeira. A segunda é provocar tesão, quero que quem me ler fique com vontade de fazer sacanagem, pelo menos se masturbando. Se alguém lesse isto no avião e, por causa disso, entrasse numa sessão de sacanagem com o companheiro ao lado, seria uma realização, um accomplishment. Penso principalmente nas mulheres, gostaria que as mulheres, ao tempo em que se tornassem mais ousadas, se tornassem também mais abertas, mais compreensivas, deixassem de ser tão mulheres, por assim dizer. E gostaria de um mundo de sacanagem sem problemas, é dificílimo, mas não é impossível em certos casos. Quero que as mulheres fiquem excitadas, se identifiquem comigo, queiram me comer e comer todo mundo que nunca se permitiram saber que queriam comer, quero criar um clima de luxúria e sofreguidão. De noite, sozinha, isso acontece. às vezes por causa de um drinque, um baseado, uma música, uma foto, uma coisa qualquer que altere ou provoque a consciência. às vezes, aparentemente por nada. Mas todas as mulheres ─ todos os homens, mas agora quero falar de mulheres ─ já sentiram e sentem um momento em que são puramente sexo e pulsam sexo por todos os lados e ficam com medo de si mesmas e se descontrolam e compreendem tudo sobre sexo e querem tudo, é uma sensação avassaladora de absoluta sexualidade, um momento em que a sacanagem toma conta de tudo, e ela se sente fêmea, devassa, puta, ela faria tudo, tudo, ela quer foder, ela quer fazer tudo!




Toda mulher que não dá a bunda sente vontade de também dar a bunda nessas horas, toda mulher que nunca deixou gozarem em sua boca sente vontade de chupar um pau até que ele esguiche forte em sua boca, toda mulher assim limitada sai desses limites nessas horas, finge que não tem problemas. Todas iguais. Eu quero excitar essas, quero provocar muitas trepadas, quero que maridos, namorados e pais assustados as proíbam de ler, quero que haja gente com vergonha de ler em público ou mesmo pedir na livraria, ah, como seria bom acompanhar tudo isso. E não estou fazendo nada demais, a não ser contar a verdade. É de fato inacreditável, se você for ver bem, que contar a verdade seja escandaloso, quase subversivo, o atraso, o atraso. Se todo mundo contasse, este depoimento seria apenas mais um entre milhões. Mas, como não conta, eu conto, e ainda tenho muito mais coisa para contar, nunca vou conseguir contar tudo. E, finalmente, a terceira intenção é bem mais um desejo. É o desejo de estar com mulheres que tenham lido este texto, para ver as caras delas e ouvir os comentários para consumo externo e para o marido que se julga liberalíssimo, mas despencaria do Everest se soubesse dez por cento do que vai na cabeça dela. Parece que eu estou vendo: Gostei, sim, mas é claro que discordo de muita coisa, ela é muito radical para mim, eu não chego àquele ponto nem na teoria, quanto mais na prática. Canalhas. Claro que chegam, se já não chegaram. Mas têm que se defender, é natural. É a tal coisa, tem uma comunidade cheia de veados e nenhum homem que coma os veados. Existe? Claro que não existe. É a mesma coisa, modus in rebus. Eu serei a única? Pelo contrário, eu sou mais é a regra, a norma, embora poucas tenham tido as oportunidades que eu tive e, por isso, não foram longe. E com quem é que eu fiz tudo o que eu fiz? Com algum marciano, por acaso? Quem está fazendo tudo agora? Sim, quero mexer com essas mulheres também, quero mexer com todo mundo.”


E, quanto a Freud, deixou essa herança desarvorada de falantes nebulosos e nervosos, que praticam seitas obscuras e dedicam as vidas à infelicidade palavrosa. Nunca provaram efetivamente nada e nunca geraram nada de aproveitável além de uns dois filmes de Woody Allen, mas estão aí para ficar, sempre estarão, como as cartomantes e videntes e conselheiros sentimentais. Ouvido de aluguel sempre teve um grande mercado, a Igreja tem sacadas geniais, vamos reconhecer, a confissão auricular foi uma delas. Freud não chegou a substituir isso, nunca será suficiente e, além do mais, não se pode perdoar o progenitor do maior acúmulo de asnices labirínticas jamais despejado sobre a Humanidade e de bichas francesas que não entendem o que elas próprias escrevem e de alemães que acham que, pelo fato de terem palavras para designar condições, atos e situações que os outros não têm, entendem mais dessas coisas, um perfeito non sequitur, nada a ver o cu com as calças, alemão só entende de alemão, Weltschmerz é a puta que pariu Goethe, com quem, aliás, eu simpatizo, era um fodelão e morreu um velho safado, como devem ser todos os velhos, em vez de engolirem calados os papéis que os mais jovens, não se contentando em ser mais jovens, lhes impõem.”


A paixão é simplesmente a tesão formatada, será que jamais isto será compreendido, será que ficaremos sempre algemados com a chave na mão?”

Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer. E eu fiz o que Ele me criou para fazer. Não quero entender nada. Quero acreditar, mas não posso ter certeza, não se pode ter certeza de nada, que Deus me terá em Sua Glória e sei que Ele agora está rindo.”

domingo, 4 de julho de 2010

Freud sobre a cultura

Texto extraído de “As Resistências à Psicanálise” ( ESB. Vol. IXX )

“A civilização humana repousa em dois pilares, dos quais um é o controle das forças naturais e o outro, a restrição de nossos instintos. O trono do governante repousa sobre escravos agrilhoados. Entre os componentes instintuais que são assim colocados a seu serviço, os instintos sexuais, no sentido mais estrito da palavra, são conspícuos por sua força e selvageria. Que desgraça, se eles se libertassem! O trono seria derrubado e o governante, calcado sob pés. A sociedade está ciente disso - e não permitirá que o assunto seja mencionado.
Mas por que não? Que prejuízo a discussão pode causar? A psicanálise jamais disse palavra em favor dos instintos desagrilhoantes que danificariam nossa comunidade; pelo contrário, emitiu uma advertência e uma exortação para que corrigíssemos nossos modos.
A sociedade, porém, se recusa a consentir em ventilar a questão, porque tem uma má consciência sob mais de um aspecto. Em primeiro lugar, ela estabeleceu um elevado ideal de moralidade - sendo essa restrição dos instintos - e insiste em que todos os seus membros preencham esse ideal, sem preocupar-se com a possibilidade de que a obediência possa pesar onerosamente sobre o indivíduo. Ela sequer é suficientemente opulenta ou bem organizada para poder compensar o indivíduo pela quantidade de sua renúncia instintual. Conseqüentemente, resta ao indivíduo decidir como pode obter, pelo sacrifício que fez, uma compensação, suficiente para capacitá-lo a preservar seu equilíbrio mental. Em geral, ele no entanto é obrigado a viver psicologicamente além de seus recursos, ao passo que as reivindicações insatisfeitas de seus instintos o fazem sentir as exigências da civilização como uma pressão constante sobre ele. Assim, a sociedade sustenta uma condição de hipocrisia cultural, fadada a ser acompanhada de um sentimento de insegurança e de uma necessidade de preservar aquilo que é uma situação inegavelmente precária com proibir a crítica e a discussão. Essa linha de pensamento aplica-se a todos os impulsos instintuais, incluindo portanto os egoístas. A questão sobre ela aplicar-se ou não a todas as formas possíveis de civilização, e não meramente àquelas que evolveram até agora, não pode ser debatida aqui. Com referência aos instintos sexuais no sentido mais estrito, há ainda o ponto de que, na maioria das pessoas, eles são insuficientemente domados, e isso de uma forma psicologicamente errada; estão portanto mais aptos a desencadear-se do que os demais.
A psicanálise revelou as fragilidades desse sistema e recomendou que ele fosse alterado. Propôs uma redução no rigor com que os instintos são reprimidos, e que correspondentemente se desse mais desempenho à veracidade. Uma quantidade maior de satisfação deveria ser facultada a certos impulsos instintuais em cuja supressão a sociedade excedeu um tanto; no caso de alguns outros, o método ineficiente de suprimi-los mediante a repressão deveria ser substituído por algum procedimento melhor e mais seguro. Em resultado dessas críticas a psicanálise é encarada como ‘inamistosa à cultura’ e foi colocada sob um anátema como ‘perigo social’. Essa resistência não pode durar para sempre. Nenhuma instituição humana pode, a longo prazo, escapar à influência da crítica legítima, contudo a atitude dos homens para com a psicanálise ainda é dominada por esse temor, que dá livre curso às suas paixões e diminui seu poder de argumento lógico.
Com sua teoria dos instintos a psicanálise ofendeu os sentimentos dos indivíduos, na medida em que se consideravam como membros da comunidade social; outro ramo de sua teoria estava destinado a ferir toda pessoa individualmente no ponto mais sensível de seu próprio desenvolvimento psíquico. A psicanálise livrou-se de uma vez por todas do conto de fadas de uma infância assexual. Demonstrou o fato de que interesses e atividades sexuais ocorrem em crianças pequenas desde o início de suas vidas. Mostrou por que transformações essas atividades passam, como, pela idade de cinco anos, eles sucumbem à inibição e como, da puberdade em diante, entram a serviço da função reprodutiva.
Reconheceu que a primeira vida sexual infantil atinge seu ápice naquilo que se conhece como complexo de Édipo (uma ligação emocional da criança ao genitor do sexo oposto, acompanhada por uma atitude de rivalidade para com o do mesmo sexo) e que, nesse período da vida, tal impulso se amplia, desinibido, para um desejo sexual direto. A confirmação disso é tão facilmente possível, que somente esforços supremos poderiam conseguir desprezá-lo. Com efeito, todo indivíduo passou por essa fase; posteriormente, porém, reprimiu energicamente seu teor e conseguiu esquecê-la. Dessa época pré-histórica da existência do indivíduo restou um horror ao incesto e um sentimento enorme de culpa. É possível que algo muito semelhante ocorresse na época pré-histórica da espécie humana como um todo e que os primórdios da moralidade, da religião e da ordem social estejam intimamente vinculados à superação dessa era primeva.
Para os adultos, sua pré-história parece tão ingloriosa que recusam permitir-se que os façam lembrar-se dela: ficaram furiosos quando a psicanálise tentou levantar o véu de amnésia de seus anos de infância. Havia apenas uma saída: o que a psicanálise asseverava tinha de ser falso e aquilo com pretensões de nova ciência havia que ser um tecido de fantasias e deformações.”



sábado, 3 de julho de 2010

The Curious Incident Of The Dog In The Night Time



















Para exercitar um pouco pelo menos a minha leitura em língua estrangeira, procurei por um livro que fosse leve e pequeno, interessante contudo. Acabei por encontrar-me com O Estranho Caso do Cachorro Morto, que reunia uma visão diferente de mundo. Um mundo à partir dos olhos de uma criança muito peculiar.

Breve e concisa resenha:

O ESTRANHO CASO DO CACHORRO MORTO
Maria Cristina Garcia Vasconcellos (Resenha).

Ler um livro sempre é uma aventura, na medida em que conhecemos personagens, experimentamos sensações, vivemos situações que podem fazer parte de nossas vidas, ou mesmo outras que nos ficam apenas na imaginação. Às vezes, livros simples nos oferecem a oportunidade de entrarmos em contato com sentimentos e mesmo percepções que nos passam desapercebidas no cotidiano. Esse é o caso do "Estranho Caso do Cachorro Morto". É um livro de leitura agradável e fácil, que prende a atenção ao nos envolver com a história de Cristopher, seu personagem principal. Ele é um menino de 15 anos, com uma vida aparentemente tranqüila e que, de um momento para outro, se vê acusado do assassinato de Wellington, o cachorro de sua vizinha. É a partir desta situação que o livro se desenrola, alternando momentos em que Cristopher investiga o assassinato do cachorro, e surpreende-se ao deparar-se com fatos de sua vida, com outros momentos em que nos é apresentada a história da vida recente de Cristopher. Entretanto, permeando esta alternância de momentos, vamos acompanhando a maneira peculiar com que o personagem pensa e sente, como percebe as situações em que se vê envolvido, bem como a maneira como se relaciona com as pessoas com quem convive. A peculiaridade reside em que Cristopher é portador da Síndrome de Asperger, um dos chamados Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. Estas são patologias em que há um severo prejuízo em áreas do desenvolvimento, como na capacidade de interagir com outras pessoas, na capacidade de comunicar-se ou há a presença de comportamentos ou interesses considerados estranhos pelos demais. O que caracteriza especificamente a Síndrome de Asperger é que muitas vezes a linguagem está preservada, assim como a capacidade cognitiva pode ser normal ou até elevada (são pessoas consideradas muito inteligentes, em áreas específicas), mas ocorre a dificuldade nos relacionamentos sociais, na compreensão das convenções sociais e da expressão afetiva das outras pessoas. Há uma baixa capacidade para empatizar e para compreender comportamentos não verbais. Estas características fazem com que, muitas vezes, a criança ou adulto portador da Síndrome de Asperger sejam reconhecidos em seu convívio social como pessoas diferentes, mais do que portadoras de uma patologia. É o caso de Cristopher, que necessita das rotinas para sentir-se tranquilo, tem dificuldades para compreender o que ocorre ao seu redor quando necessita comunicar-se com pessoas que não compreendem sua maneira de pensar. Está voltado mais para o "seu" mundo, na medida em que é o mundo em que sente-se tranquilo, em que pode compreender e controlar o que ocorre e assim preservar sua capacidade de pensar. Nesse seu mundo há o interesse especial, e a grande facilidade para lidar com os números, há esquemas montados dos quais pode se utilizar para enfrentar situações difíceis, e há a possibilidade de evitar o contato mais próximo com os outros, o que tanto o assusta. Desta maneira, a partir das situações que vão ocorrendo no transcorrer da história, vamos compreendendo com muita clareza, uma vez que estamos muito próximos do pensamento e dos afetos de Cristopher, as razões de sua "estranha" conduta. E penso que esta é a maior riqueza e aventura do livro, podermos acompanhar e compreender de uma maneira muito afetuosa a maneira como o personagem experimenta e pensa as situações que vai vivendo. Nos é possibilitado ir além da observação de sua conduta, da sua "diferença", da sua doença, para encontrarmos o menino assustado, que tem que lidar com situações muito difíceis. Com isto, somos levados a exercitar justamente aquilo que é difícil para o próprio Cristopher, a compreensão do humano que está para além do comportamento, que não é dito, mas apenas sentido, e que está presente em todos nós.





Trechos mais notáveis do livro:

61. Mrs. Forbes at school said that when Mother died she had gone to heaven. That was
because Mrs. Forbes is very old and she believes in heaven. And she wears tracksuit trousers because she says that they are more comfortable than normal trousers. And one of her legs is very slightly shorter than the other one because of an accident on a motorbike.
But when Mother died she didn't go to heaven because heaven doesn't exist.
Mrs. Peters's husband is a vicar called the Reverend Peters, and he comes to our school
sometimes to talk to us, and I asked him where heaven was and he said, "It's not in our
universe. It's another kind of place altogether."
The Reverend Peters makes a funny ticking noise with his tongue sometimes when he is
thinking. And he smokes cigarettes and you can smell them on his breath and I don't like this.
I said that there wasn't anything outside the universe and there wasn't another kind of place
altogether. Except that there might be if you went through a black hole, but a black hole is
what is called a singularity, which means it is impossible to find out what is on the other side
because the gravity of a black hole is so big that even electromagnetic waves like light can't
get out of it, and electromagnetic waves are how we get information about things which are
far away. And if heaven was on the other side of a black hole, dead people would have to be
fired into space on rockets to get there, and they aren't or people would notice.
I think people believe in heaven
to carry on living and they don't like the idea that other people will move into their house and
put their things into the rubbish.
The Reverend Peters said, "Well, when I say that heaven is outside the universe it's really just
a manner of speaking. I suppose what it really means is that they are with God."
And I replied, "But where is God?"
And the Reverend Peters said that we should talk about this on another day when he had
more time.
What actually happens when you die is that your brain stops working and your body rots, like
Rabbit did when he died and we buried him in the earth at the bottom of the garden. And all
his molecules were broken down into other molecules and they went into the earth and were
eaten by worms and went into the plants and if we go and dig in the same place in 10 years
there will be nothing except his skeleton left. And in 1,000 years even his skeleton will be
gone. But that is all right because he is a part of the flowers and the apple tree and the
hawthorn bush now.
When people die they are sometimes put into coffins, which means that they don't mix with
the earth for a very long time until the wood of the coffin rots.
But Mother was cremated. This means that she was put into a coffin and burned and ground
up and turned into ash and smoke. I do not know what happens to the ash and I couldn't ask at
the crematorium because I didn't go to the funeral. But the smoke goes out of the chimney
and into the air and sometimes I look up into the sky and I think that there are molecules of
Mother up there, or in clouds over Africa or the Antarctic, or coming down as rain in the rain
forests in Brazil, or in snow somewhere.”





l07. The Hound of the Baskervilles is my favorite book.
In The Hound of the Baskervilles, Sherlock Holmes and Doctor Watson get a visit from
James Mortimer, who is a doctor from the moors in Devon. James Mortimer's friend, Sir
Charles Baskerville, has died of a heart attack and James Mortimer thinks that he might have
been scared to death. James Mortimer also has an ancient scroll which describes the curse of
the Baskervilles.
On this scroll it says that Sir Charles Baskerville had an ancestor called Sir Hugo Baskerville,
who was a wild, profane and godless man. And he tried to do sex with a daughter of a
yeoman, but she escaped and he chased her across the moor. And his friends, who were
daredevil roisterers, chased after him.
And when they found him, the daughter of the yeoman had died of exhaustion and fatigue.
And they saw a great black beast, shaped like a hound yet larger than any hound that ever
mortal eye has rested on, and this hound was tearing the throat out of Sir Hugo Baskerville.
And one of the friends died of fear that very night and the other two were broken men for the
rest of their days.
James Mortimer thinks that the Hound of the Baskervilles might have scared Sir Charles to
death and he is worried that his son and heir, Sir Henry Baskerville, will be in danger when
he goes to the hall in Devon.
So Sherlock Holmes sends Doctor Watson to Devon with Sir Henry Baskerville and James
Mortimer. And Doctor Watson tries to work out who might have killed Sir Charles
Baskerville. And Sherlock Holmes says he will stay in London, but he travels to Devon
secretly and does investigations of his own.
And Sherlock Holmes finds out that Sir Charles was killed by a neighbor called Stapleton
who is a butterfly collector and a distant relation of the Baskervilles. And Stapleton is poor,
so he tries to kill Sir Henry Baskerville so that he will inherit the hall.
In order to do this he has brought a huge dog from London and covered it in phosphorus to
make it glow in the dark, and it was this dog which scared Sir Charles Baskerville to death.
And Sherlock Holmes and Watson and Lestrade from Scotland Yard catch him. And
Sherlock Holmes and Watson shoot the dog, which is one of the dogs which gets killed in the
story, which is not nice because it is not the dog's fault. And Stapleton escapes into the
Grimpen Mire, which is part of the moor, and he dies because he is sucked into a bog.
There are some bits of the story I don't like. One bit is the ancient scroll because it is written
in old language which is difficult to understand, like this
Learn then from this story not to fear the fruits of the past, but rather to be circumspect in the
future, that those foul passions whereby our family has suffered so grievously may not again
be loosed to our undoing.
And sometimes Sir Arthur Conan Doyle (who is the author) describes people like this
There was something subtly wrong with the face, some coarseness of expression, some
hardness, perhaps of eye, some looseness of lip which marred its perfect beauty.
And I don't know what some hardness, perhaps of eye means, and I'm not interested in faces.
But sometimes it is fun not knowing what the words mean because you can look them up in a
dictionary, like goyal (which is a deep dip) or tors (which are hills or rocky heights).
I like The Hound of the Baskervilles because it is a detective story, which means that there
are clues and Red Herrings.
These are some of the clues
1. Two of Sir Henry Baskerville's boots go missing when he is staying at a hotel in London.
This means that someone wants to give them to the Hound of the Baskervilles to smell, like a
bloodhound, so that it can chase him. This means that the Hound of the Baskervilles is not a
supernatural being but a real dog.
2. Stapleton is the only person who knows how to get through the Grimpen Mire and he tells
Watson to stay out of it for his own safety. This means that he is hiding something in the
middle of the Grimpen Mire and doesn't want anyone else to find it.
3. Mrs. Stapleton tells Doctor Watson to "go straight back to London instantly." This is
because she thinks Doctor Watson is Sir Henry Baskerville and she knows that her husband
wants to kill him.
And these are some of the Red Herrings
1. Sherlock Holmes and Watson are followed when they are in London by a man in a coach
with a black beard. This makes you think that the man is Barrymore, who is the caretaker at
Baskerville Hall, because he is the only other person who has a black beard. But the man is
really Stapleton, who is wearing a false beard.
2. Selden, the Netting Hill murderer. This is a man who has escaped from a prison nearby and
is being hunted down on the moors, which makes you think that he has something to do
with the story, because he is a criminal, but he hasn't anything to do with the story at all.
3. The Man on the Tor. This is a silhouette of a man that Doctor Watson sees on the moor at
night and doesn't recognize, which makes you think it is the murderer. But it is Sherlock
Holmes who has come to Devon secretly.
I also like The Hound of the Baskervilles because I like Sherlock Holmes and I think that if I
were a proper detective he is the kind of detective I would be. He is very intelligent and he
solves the mystery and he says
The world is full of obvious things which nobody by any chance ever observes.
But he notices them, like I do. Also it says in the book
Sherlock Holmes had, in a very remarkable degree, the power of detaching his mind at will.
And this is like me, too, because if I get really interested in something, like practicing maths,
or reading a book about the Apollo missions or great white sharks, I don't notice anything
else and Father can be calling me to come and eat my supper and I won't hear him. And this
is why I am very good at playing chess, because I detach my mind at will and concentrate on
the board and after a while the person I am playing will stop concentrating and start
scratching their nose, or staring out of the window, and then they will make a mistake and I
will win.
Also Doctor Watson says about Sherlock Holmes
His mind... was busy in endeavouring to frame some scheme into which all these strange and
apparently disconnected episodes could be fitted.
And that is what I am trying to do by writing this book.
Also Sherlock Holmes doesn't believe in the supernatural, which is God and fairy tales and
Hounds of Hell and curses, which are stupid things.
And I am going to finish this chapter with two interesting facts about Sherlock Holmes
1. In the original Sherlock Holmes stories Sherlock Holmes is never described as wearing a
deerstalker hat, which is what he is always wearing in pictures and cartoons. The deerstalker
hat was invented by a man called Sidney Paget, who did the illustrations for the original
books.
2. In the original Sherlock Holmes stories Sherlock Holmes never says "Elementary, my dear
Watson." He only ever says this in films and on the television.


Sobre O Cão Dos Baskerville: