domingo, 24 de janeiro de 2010

Grande Sertão:Veredas

Cuidado com este livro, pois Grande Sertão: Veredas é como certos casarões velhos, certas igrejas cheias de sombras. No princípio a gente entra e não vê nada. Só contornos difusos, movimentos indecisos, planos atormentados. Mas aos poucos, não é luz nova que chega; é a visão que se habitua. E, com ela, a compreensão admirativa. O imprudente ou sai logo, e perde o que não viu, ou resmunga contra a escuridão, pragueja, dá rabanadas e pontapés. Então arrisca-se chocar inadvertidamente contra coisas que, depois, identificará como muito belas.


Férias -ainda, infelizmente- e eu precisando ocupar meu tempo e minha mente. Nada melhor que um livro bom e extenso. Logo me veio à cabeça o 'Grande Sertão:Veredas' de Guimarães Rosa.

Resuminho básico, pra me ajudar, depoois, a não esquecer de coisas importantes sobre a história:


Grande Sertão: Veredas gira em torno da história de dois personagens, Riobaldo e Diadorim. Riobaldo, também conhecido como Tatarana ou Urutu-Branco, é o narrador-protagonista do livro. Diadorim é Reinaldo, amigo de infância de Riobaldo e filho de Joca Ramiro, chefe de um bando de jagunços.

Riobaldo, morador às margens do São Francisco, conta sua trajetória de vida com acentos e jeitos sertanejos – uma inusitada invenção de linguagem, a um interlocutor que nunca se pronuncia, a quem ele chama “Senhor” ou “Moço”. Em sua narrativa, intérprete dos segredos das veredas, Riobaldo tece a história de sua vida – um discurso de descoberta e autoconhecimento: revelando o sertão-mundo, revela-se a si próprio, como se dissesse “o sertão sou eu” para reconhecer-se. Nessa perigosa travessia, Riobaldo confronta as forças do bem e do mal, retoma num fluxo de memória o fio de sua vida e narra as grandes lutas dos bandos de jagunços, descreve os feitos e características de diversos personagens e revela os códigos de honra e de procedimentos do sertão.



A narrativa não segue uma forma linear, mas podemos depreender dela muito da história de Riobaldo. Conta ele que depois da morte da mãe, uma mulher pobre que vive como agregada em uma grande fazenda no interior de minas, passou a morar com seu padrinho. Decepcionado, com esse que era provavelmente seu verdadeiro pai, foge de casa. Ex-jagunço de um bando dos "sertões das gerais" (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e norte e nordeste de Goiás), Riobaldo é levado a se juntar ao movimento jagunço ao reencontrar um amigo de infância, Diadorim.

Entretanto, segundo o próprio Riobaldo a série de aventuras que vive com o bando não lhe traz satisfação. A verdade é que com o passar do tempo passou a perceber que ama seu amigo Diadorim, e a impossibilidade de realização desse sentimento o deixa cada vez mais frustrado. O narrador gostaria de partir com seu companheiro, mas Diadorim se recusa a abandonar a jagunçagem até vingar seu pai Joca Ramiro, que foi traído e assassinado por Hermógenes, líder de um grupo rival.

Diadorim era sério, "não se fornecia com mulher nenhuma". Destemido, calado, de feições finas e delicadas, impressionava Riobaldo e exercia sobre ele grande fascínio: "Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego".

Riobaldo decide vingar a morte de Joca Ramiro, para ele uma questão de honra. Sentindo-se completamente encurralado Riobaldo resolve então fazer um pacto com o demônio, de modo que esse lhe permita matar Hermógenes e sair da situação em que se encontra. Em uma noite escura, o narrador vai, então, a uma encruzilhada. Chama o demônio pelo nome e, não recebe qualquer tipo de resposta. Não é possível afirmar com certeza se houve ou não o pacto. Essa tensão estende-se por toda a narrativa. Fato é que, depois dessa noite, o comportamento de Riobaldo se modifica radicalmente, chegando a se tornar o chefe do bando. Uma das grandes dúvidas de Riobaldo era justamente sobre a existência ou não do "Diabo", e se verdadeira a sua condição de pactuário. Durante a narrativa, vai e volta dessa crença, atitude que orna bem a inconstância desse personagem: "Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano." "O Diabo no meio da rua". Esse questionamento se interioriza, sobre o bem e o mal que habita em todos nós. Diadorim tinha como objetivo vingar a morte do pai e consegue, após muitas lutas e andanças. Em sangrento duelo, mata Hermógenes, mas é ferido mortalmente. Ao receber a notícia da morte do amigo, Riobaldo é tomado por dor intensa e, em desespero, estarrecido, exclama: “Meu amor”, diante do corpo desnudo a revelar o grande segredo do companheiro.

Após o trágico fim de Diadorim, Riobaldo desiste da vida de jagunço e adota um comportamento de devoção espiritual, orientado pelo seu compadre Quelemém. Casa-se com Otacília e torna-se proprietário, ao receber duas fazendas de herança.


(Enredo retirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Sert%C3%A3o:_Veredas)

(Links para as fotos, não necessariamente em ordem)

http://www.flickr.com/photos/isabellamaia/3879809837/

http://oijulia.multiply.com/photos/album/37/37#photo=26

http://www.flickr.com/photos/mila_elias/2335014368/

http://www.flickr.com/photos/mauricio_solla/378513970/


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Conto Onírico


-Aonde você falou que íamos mesmo?
- Relaxa, nós só vamos dar umas voltinhas fora da cidade pra termos tempo de conversar.
-Com essa chuva? Não tinha um lugar mais tranquilo do que uma pista molhada para conversarmos?
-Se acalma, vamos devagar. Não vai acontecer nada, você vai ver.
...
-E você, conseguiu mesmo conversar com a menina lá?
-Consegui sim, finalmente. Apesar dela ter dado umas bobeiras e ter deixado claro que ainda gosta um pouquinho do cara, fez questão de dizer que eu deveria ir em frente e que me desejava muita sorte com ele; falou até que eu merecia que desse tudo certo.
-Menina legal. Aproveitando a deixa, desejo sorte pra você também. Você merece.
-Obrigada. Sabe que também te desejo sorte. Por falar nisso, como vão as coisas lá na sua casa?
-Mal, como sempre. Hoje fiz questão de tirar todas minhas economias do banco e deixar em casa, bem escondido, pro caso de acontecer alguma coisa.
-Alguma coisa? Que tipo de coisa? Um terremoto ou algo assim?
-Droga, estou falando sério. A situação não anda nada boa e quero que alguém possa usar aquele dinheiro pra alguma coisa mais útil do que o que eu tinha planejado. Inclusive, era justamente isso que eu queria falar com você.
-Ih, lá vem você com esses papos. Mas pode dizer, vai.
-Na verdade eu quero que escreva um bilhete para minha mulher.
-Mas não é melhor você mesmo escrever? Ou simplesmente ligar pra ela, mandar uma mensagem? Você sabe muito bem que ela não vai gostar nadinha de receber um bilhete seu escrito por mim e que estivemos juntos aqui, sozinhos. Vai começar a pensar besteiras sobre o que estivemos fazendo até tão tarde na estrada. Andando sem rumo debaixo dessa chuva toda.
-Eu não posso escrever agora, tenho que dirigir. Não se preocupe, ela vai saber o que estivemos fazendo essa noite.
-Ah, é? E eu vou saber também? Porque até agora...
-Se acalma, você vai saber sim.
-Tá, então espere só eu acender a luz aqui. Pronto! Pode dizer, o que devo escrever.
-Hum... Diga que ela não teve culpa, que ela bem sabe como eu sou e que às vezes não tem nada que ela possa fazer mesmo.
-Culpa? Vocês brigaram de novo?
-Mais ou menos. Na verdade, digamos que eu briguei. Não estava muito bem humorado hoje e acabei descontando nela.
-Como quase sempre acontece, né? Mas vamos lá, quero terminar logo esse bilhete estranho e voltar rápido pra casa.
-Na verdade, já terminou. Era só o que eu queria dizer.
-Tantos rodeios pra tão pouco. Podia ter você mesmo dito isso quando chegasse em casa.
-O caso é que não vamos chegar em casa. Esconda aqui esse bilhete, onde ficará seguro. Aperte bem o seu cinto.
-Mas por...
A estrada amanheceu ainda molhada pelas fortes chuvas. As águas não apagaram a marca dos pneus. Somente a garota e o bilhete sobreviveram.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Melancolia



Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade




Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ilha das Flores

Normalmente posto aqui somente textos referentes à livros que li. Porém, não pude me conter em abrir essa exceção e postar também sobre um filme, um curta na verdade.

ILHA DAS FLORES , é um filme de curta-metragem brasileiro, do gênero documentário, escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado em 1989, com produção da Casa de Cinema de Porto Alegre.
O curta está listado entre os 1001 filmes para se ver antes de morrer do livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer (Wikipédia)

O telencéfalo altamente desenvolvido permite aos seres humanos armazenar informações, relacioná-las, processá-las e entendê-las. Isso distingue seres humanos de porcos. Cabe lembrar que o porco não tem um teleencéfalo altamente desenvolvido; nem mesmo um polegar, que dirá opositor.


Alguns seres, apesar de bípedes e de terem um polegar opositor - o que os assemelha aos seres humanos-, não têm um telencéfalo altamente desenvolvido - o que os assemelha aos porcos- que permita armazenar informações, relacioná-las, processá-las e entendê-las.

Para sabermos então se são seres humanos ou porcos analisaremos:

1) Prioridade sobre os seres humanos na hora de escolher a comida:
Sim, visivelmente.

2) Ter um dono:
Sim.

3) Gerar lucros como mercadorias:
Sim.


Notavelmente, seres que se enquadrem nessa categoria (que certamente não são humanos, mas não são ainda porcos) NÃO ENTENDEM porque alguns seres humanos têm que revirar o lixo para sobreviver.


"Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."