domingo, 28 de junho de 2009

O Conto do Eu Desconhecido


Orgasmos literários por José Saramago.

Sem mais comentários, é desnecessário escrever que meu primeiro contato com sua literatura foi impactante.

"Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver, não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei quando não tinha que fazer, ia sentar se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, não é a mesma coisa." (J. Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida)

Metaforica e categóricamente, a Ilha Desconhecida, é o Eu Desconhecido; sua busca é a busca à nós mesmos e aos nossos próprios ideais.

"É muito fácil ser como os outros
Difícil é ousar ser diferente
Arriscar-se numa aventura inusitada
Em busca do que se é." (Pablo Vinícius)

Nessa busca, o principal não é o resultado, ou seja, o que procuramos. Mas simplesmente a própria busca. O nosso achado consiste em ousar procurar. Logo, é mister que se nada encontrarmos, não fracassaremos; pois é vitória o simples fato de ter procurado.

"Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, se tal me viesse a acontecer,
deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi
esse, Queres dizer que chegar sempre se chega,...” (SARAMAGO, 1998,
p.27). "


Que se atire ao mar, quem ainda não ousou desbravar suas ilhas desconhecidas.

Crime e Castigo

Além de ser a mais célebre obra do grande Dostoiévski, é também uma discussão filosófica profunda, com sua narrativa de extraordinária inteligência e complexidade.
Aborda o crime de uma visão,no mínimo, revolucionária. 'Que é o crime, senão a simples variação da ordem social? E nada, nada mais.'
Quase uma apologia aos grandes crimes, em Crime e Castigo a todo momento Dostoiévski argumenta que homens como Napoleão e César não tiveram seus crimes repreendidos, pelo contrário, foram até enaltecidos. Assassinatos, genocídios, invasões e pode-se até dizer suicídio em massa dos soldados que entregaram suas vidas em nome dos ideais desses grandes homens; diversas atrocidades em prol de suas grandiosas conquistas. Os fins justificam os meios.
O crescimento de Raskólnikov em sua carreira justificaria a morte de uma velhusca decrépta e usurária. Porém, o desfecho da história nos mostra o agrilhoamento da consciência de Raskólnikov. Apesar de já haver aparecido um confessor do crime e do inspetor de polícia garantir à Raskólnikov que conquanto já saiba que este é o verdadeiro autor do crime, não o deterá (Porfíri,o inspetor- adota métodos de tortura psicológica e não quer perder a oportunidade de usá-los em Raskólnikov, por isso o mantém em liberdade) o peso de uma irmã que só faz sofrer, de uma mãe que beira a loucura e de um crescente amor levam Raskólnikov a não suportar mais a liberdade (conquanto não se arrependa de ter matado a velha) e finalmente se entregar aos métodos de Porfíri.
Mais que um excelente romance, Crime e Castigo é uma obra de arte de grande conteúdo crítico e reflexivo.

Menino de Engenho


História de um garoto que cresce no engenho do avô após o pai ter morto a mãe.
Além de autobiográfico, é um fiel retrato de época. A economia da cana de açúcar pela visão do neto de um senhor de engenho; às vezes mimado, caprichoso e principalmente muitíssimo observador(devido à sua precária saúde, que o impede de desfrutar das aventuras junto aos moleques da fazenda), o garoto descreve minuciosamente -excesso de detalhes) a vida na casa grande. Crimes familiares, abusos contra escravos negros, amores de infância e loucuras de adolescência.
À medida que o garoto cresce, novos aspectos do cotidiano no engenho vão se revelando. Porém, essa gradativa revelação de detalhes não contribui para construção da expectativa para uma complicação da história.
Na minha opinião, faltou clímax. Até entendo toda a coisa do romance histórico, da literatura pelos fatos ocorridos e não pela arte, mas livro é livro; notícia é notícia. Misturá-los ou confundi-los é pecar contra a arte e contra a história.

Talvez tenha sido o próprio estilo, ou a tentativa de inovar que tenham contribuído contra o livro. Os fatos são interessantes, a personagem é interessante num cenário interessante mas o enredo é pobre. Tive a impressão que se os fatos forem alterados e reposicionados, nada se alterará.
Não gostei.