“— Irmão Harry, convido-o para uma pequena diversão. Somente para loucos. A
entrada custa a razão. Está disposto?”
(Pág. 92 – O Lobo Da Estepe )
Estava assistindo à um programa no site Showlivre.com de uma banda contemporânea que acompanho desde o princípio da carreira, O Teatro Mágico, quando numa determinada altura o líder da banda, Fernando Anitelli, comentou sobre sua inspiração para iniciar o projeto músical. Entre todo o relato de sua história pessoal com a música, Anitelli citou um livro que havia lhe sugerido o nome para o seu projeto: O Lobo Da Estepe, de Hermann Hesse.
Contou aos internautas que acompanhavam à entrevista que a personagem principal do livro havia ficado profundamente interessada quando, ao passar por uma rua que parecia não poder ser mais simples, viu um cartaz colorido e atrativo convidando o público à ingressar no Teatro Mágico, entrada para raros.
Tanto o nome da banda quanto o do primeiro álbum (Entrada Para Raros) foram inspirados na obra de Hesse. Anitelli declarou, porém, que as inspirações limitavam-se aos nomes e, mais à fundo, talvez até um pouco na ideologia de O Lobo Da Estepe; não sendo portanto o Teatro Mágico uma tentativa de releitura musical da obra de Hesse.
Após descobrir a relação do autor com uma banda de que gosto muito, meu interesse por sua obra foi imediato.
Contou aos internautas que acompanhavam à entrevista que a personagem principal do livro havia ficado profundamente interessada quando, ao passar por uma rua que parecia não poder ser mais simples, viu um cartaz colorido e atrativo convidando o público à ingressar no Teatro Mágico, entrada para raros.
Tanto o nome da banda quanto o do primeiro álbum (Entrada Para Raros) foram inspirados na obra de Hesse. Anitelli declarou, porém, que as inspirações limitavam-se aos nomes e, mais à fundo, talvez até um pouco na ideologia de O Lobo Da Estepe; não sendo portanto o Teatro Mágico uma tentativa de releitura musical da obra de Hesse.
Após descobrir a relação do autor com uma banda de que gosto muito, meu interesse por sua obra foi imediato.
Senhoras e senhores, respeitável público pagão, bem vindos ao Teatro Mágico de Hesse!
Sinopse: As palavras iniciais escritas antes da narrativa se iniciar são: "só para loucos". Um aviso de Hermann Hesse para um livro perigoso, que eleva o nível de desagregação do ser ao máximo, e o sofrimento e a dúvida até onde o homem pode agüentar. A vítima e personagem é Harry Haller, um sujeito culto, de aparência não desprezível, mas que não se encaixa na sociedade. Preferiu traçar seu caminho sozinho, perambulando por esquinas de noite, ou observando o calor do cabarés. Em seus delírios reais Haller esbarra com outras pessoas estranhas, que o chamam por trás de luzes nostálgicas e da fumaça de ópio e o levam à descoberta de um novo mundo. A trama fez com que muitos considerassem esse o melhor livro do autor e um passo indispensável para ele ganhar o prêmio Nobel de Literatura com o romance "O Jogo das Contas de Vidro".
Filosoficamente, tanto quanto literariamente, O Lobo da Estepe é também uma obra-prima.
“Naturalmente haverá outra guerra; não é preciso ler nos jornais para saber disto. É certo, embora isso nos entristeça, que o homem, apesar de tudo e de todos, apesar do que possa fazer, o homem tem inevitavelmente de morrer. A luta contra a morte, meu caro Harry, é sempre uma coisa bela, nobre, prodigiosa e digna, da mesma forma que a luta contra a guerra. Mas há de ser sempre uma quixotada sem esperanças.
Talvez seja verdade — exclamei enérgico — mas com verdades semelhantes a esta de que temos todos de morrer e que, por conseguinte, tudo é igual, é que convertemos a vida em algo monótono e estúpido. Desta forma teremos de renunciar a tudo, ao espírito, às aspirações; teremos de destruir a Humanidade, teremos de permitir que reine o egoísmo e o dinheiro e esperar a próxima guerra com um copo de cerveja à mão.”
“— Mas podem vir com polícias e soldados e matar-nos. —Já não existe mais polícia nem
nada que se assemelhe a isso. Podemos fazer das duas uma: ou ficar aqui tranqüilamente e disparar contra todos os carros que passem pela estrada ou tomar um desses carros e deitar a correr por aí para que os outros nos metralhem. Tanto faz tomar um partido quanto outro. Acho preferível ficarmos aqui.
Lá embaixo surgiu um outro automóvel, cuja buzina soava estridentemente. De pronto
liquidamos com ele e lá ficou com as rodas viradas para cima.
— É curioso — disse eu — que um disparo possa causar tamanha diversão. Eu antes era inimigo da guerra!
Gustav sorriu:
— Sim, há homens em demasia na terra. Antes a gente não se dava conta disso. Mas agora,
quando as pessoas já não se contentam em respirar e querem também ter um automóvel, a
coisa se nota mais. Naturalmente, o que estamos fazendo não é racional; trata-se de uma
infantilidade, como também a guerra é uma infantilidade em escala monumental. A Humanidade aprenderá mais tarde a regular a população por meios racionais. Enquanto isso, é necessário reagirmos contra esta situação insuportável de maneira bastante irracional; mas no fundo, fa2emos o que é
necessário: reduzimos.
— Sim — disse eu — isto fazemos; possivelmente há de ser uma loucura, mas talvez seja
também bom e necessário. As coisas não vão bem quando a Humanidade fatiga
excessivamente sua inteligência e procura ordenar com o auxílio da razão as coisas
inacessíveis à razão. Então surgem ideais, tais como os dos americanos ou dos bolchevistas;
ambos são extraordinariamente racionais, mas desejando ingenuamente simplificar a vida,
acabam por violentá-la de maneira terrível. A igualdade do homem, um ato ideal das épocas
pretéritas, está a ponto de se tornar um clichê. Talvez nós, os loucos, consigamos enobrecê-lo um pouco.”
Um dos pensamentos que mais me chamou a atenção no livro:
"A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer.'' Não
é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a
água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto
mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito
longe com isso, mas, sem dúvida estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá
afogado.
Nota do Autor
(1961)
“Os escritos poéticos podem ser compreendidos e incompreendidos de muitas maneiras. Na
maior parte dos casos o autor não constitui a autoridade mais indicada para decidir até que
ponto o leitor compreende e onde começa a incompreensão. Não são poucos aqueles a cujos
leitores sua obra parecia muito mais clara do que a eles próprios. Além do mais, as
incompreensões até que podem ser frutíferas sob certas circunstâncias.
Contudo, parece-me que de todas as minhas obras, o Lobo da Estepe é a que vem sendo mais
freqüente e violentamente incompreendida, e o curioso é que, em geral, a incompreensão
parte mais dos leitores entusiastas e satisfeitos com o livro do que dos leitores que o
rejeitaram. Em parte, mas só em parte, isto pode ocorrer com tal freqüência em razão de este
livro, escrito quando eu tinha cinqüenta anos e tratando, como trata, de problemas peculiares a essa idade, cair não raro em mãos de leitores
muito jovens.
Mas, entre leitores da minha própria idade, também tenho encontrado com freqüência
alguns que — embora bem impressionados com o livro — só percebem
estranhamente apenas uma parte do que pretendi. Tais leitores, ao que me parece,
reconheceram-se no Lobo da Estepe, identificaram-se com ele, sofreram suas dores e
sonharam os seus sonhos; mas não deram o devido valor ao fato de que este livro fala
e trata também de outras coisas, além de Harry Haller e de seus problemas, que fala a
propósito de um outro mundo mais elevado e indestrutível, muito acima daquele em
que transcorre a problemática vida de meu personagem. O Tratado do Lobo da Estepe
e outros trechos do livro que versam questões do espírito abordam assuntos de arte e
mencionam os "imortais", opõem-se ao mundo sofredor do Lobo da Estepe com a
afirmativa de um mundo de fé, sereno, multipersonalístico e atemporal. O livro trata,
sem dúvida alguma, de sofrimentos e necessidades, mas mesmo assim não é o livro de um homem em desespero, mas o de um homem que crê.
É claro que não posso nem pretendo dizer aos meus leitores como devem entender a minha história. Que cada um nele encontre aquilo que lhe possa ferir a corda íntima e o que lhe seja de alguma utilidade! Mas eu me sentiria contente se alguns desses leitores pudessem perceber que a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção.”