domingo, 31 de maio de 2009

Um tanto de poesia e outro de crítica

Hoje encontrei uma questão da UFU de 2004 que é interessante:


"— Atenção peço, senhores,
para esta breve leitura:
somos ciganas do Egito, lemos a sorte futura.
Vou dizer todas as coisas
que desde já posso ver
na vida desse menino
acabado de nascer:
(...)
Cedo aprenderá a caçar:
primeiro, com as galinhas,
que é catando pelo chão
tudo o que cheira a comida;
depois, aprenderá com
outras espécies de bichos:
com os porcos nos monturos,
com os cachorros no lixo."
(Morte e Vida Severina, J.Cabral de M. Neto)


"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem."
(O Bicho, Manuel Bandeira)


"A condição social dos brasileiros nos faz pensar que a criança de hoje é o homem de amanhã, ou seja, o homem do poema de Bandeira é a criança nordestina, que nasce no poema de João Cabral, vivendo igualmente à margem do sistema econômico."

Fica o post também para marcar a leitura do poema Morte e Vida Severina do já citado autor.
Nessa obra excelente, João Cabral mostra com brilhantismo como o Brasil é socialmente desigual desde o nordeste até terras menos áridas. Severino, um ícone da miséria brasileira, é um retirante que deixa sua terra em busca de melhores condições. À espera dele, há o cemitério que já virou destino dos retirantes:




"— E esse povo de lá de riba
de Pernambuco, da Paraíba,
que vem buscar no Recife
poder morrer de velhice,
encontra só, aqui chegando,
cemitério esperando.
— Não é viagem o que fazem
vindo por essas caatingas, vargens;
aí está o seu erro:
vêm é seguindo seu próprio enterro"

Um comentário:

  1. À propósito, há uma boa 'musicalização' do poema, feita por Chico Buarque para montagem da peça teatral.
    Fica a dica:

    http://www.4shared.com/file/87949263/24e83d9e/Chico_Buarque_-_02_-_Morte_e_Vida_Severina_1966.html

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